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Exército simula crise de refugiados na tríplice fronteira com Peru e Colômbia

Centro de acolhida de refugiados durante exercícios do AmazonLog 2017, que simula crise humanitária decorrente de uma imaginária seca na região da tríplice fronteira (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

O agravamento da seca no norte do país, na região da tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, levou ao deslocamento de centenas de civis para a cidade de Tabatinga, no Amazonas. Esse foi o contexto do exercício de simulação de acolhimento de refugiados estrangeiros em situação de catástrofe realizado nesta quinta-feira (9) por militares do Brasil e dos dois países vizinhos.

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A atividade faz parte de um conjunto de simulações realizadas pelas Forças Armadas para treinar procedimentos de ajuda humanitária em caso de catástrofes como secas, enchentes, terremotos ou mesmo deslocamentos provocados por convulsões sociais.

Tabatinga fica distante cerca de 1,1 mil quilômetros de Manaus, onde só é possível chegar de barco ou avião. A cidade, com pouco mais de 60 mil habitantes, está localizada na tríplice fronteira com as cidades de Santa Rosa, no Peru; e Letícia, na Colômbia

No treinamento, moradores dos três países simularam a situação de emergência e chegaram ao centro de acolhimento de refugiados montado pelo Exército a partir da fronteira com Letícia e pelo porto de Tabatinga, onde foram instalados pontos de triagem desses refugiados.

“Dentro do exercício, os deslocados estão recebendo os efeitos da forte seca e vêm tanto do nosso país, do interior, quanto do Peru e Colômbia”, explicou o major do Exército Brasileiro Leonardo Martins Ribeiro, que atuou na organização dos procedimentos para a acolhida dos refugiados.

Após a acolhida, os refugiados foram deslocados para um centro de controle de entrada. Dentro do centro, os refugiados passavam por diversos procedimentos, entre eles uma avaliação das condições de saúde que verificou o risco de contágio por doenças infecciosas ou mesmo por contaminação de substâncias químicas.

Os refugiados passaram ainda por triagem de bagagens e entrevista com diversas agências, como a Polícia Federal, Ministério das Relações Exteriores e Defesa Civil, entre outras. De acordo com o major, em caso de risco à saúde, os refugiados podem ser atendidos em uma cabine de descontaminação química montada no local.

Na simulação de acolhida de refugiados no Brasil, há treinamento para descontaminação química e tratamento em caso de doença contagiosa (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

O exercício de simulação de situações de ajuda humanitária, chamado de AmazonLog, reúne cerca de 2 mil pessoas e conta com a participa de observadores de 22 países. Uma base militar foi montada para dar suporte aos exercícios. A estrutura conta com alojamentos para as tropas, um hospital de campanha e estrutura de comunicações.

Na simulação, após passarem por todos os procedimentos, os refugiados são levados para a base e de lá seguem para o lugar definitivo de acolhida. No caso simulado, a cidade de Manaus foi escolhida.

O objetivo do centro de controle é identificar quem realmente é refugiado e quem está tentando se aproveitar da situação. “A partir das informações levantadas, eles são deslocados para uma área de destino seguro, que no exercício é a base montada, e posteriormente para uma área de destino final, que seria Manaus”, acrescentou o major Leonardo Ribeiro.

Cooperação

Segundo o general do Exército colombiano Robinson Alexander Ramírez, a iniciativa fortalece os laços entre as forças dos países envolvidos e ajuda na coordenação de ações em caso de uma eventual catástrofe.

“Este evento é uma grande oportunidade para realizarmos uma maior integração, aumentando as capacidades das nossas tropas de mitigar qualquer catástrofe, como deslocamentos populacionais, enchentes e secas”, disse o general, durante videoconferência realizada pelo comando do AmazonLog para preparação do exercício e a coordenação de ações.

Militares de diversos países que participam como observadores trocavam impressões e acompanhavam atentamente cada procedimento realizado. Um dos observadores, o coronel francês Jorge Martinez, afirmou que lá também se usam os mesmos procedimentos.

“Nós buscamos fazer da mesma forma que está sendo mostrado aqui”, disse à Agência Brasil. “A recepção é um ponto crítico e uma boa recepção diz como os refugiados serão tratados ou não no país, se serão bem ou mal tratados”, disse. “Pelo que vi, aqui os militares são muito bem organizados, eles tem o costume de fazer esse tipo de operação”, afirmou.

Militares de vários países acompanham a simulação de acolhida de refugiados no Brasil e elogiam a cooperação estimulada pelo AmazonLog 2017 (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

O coronel Daniel Boromi, do Exército argentino, também elogiou a organização para recepcionar os refugiados que, segundo ele, era orientada para manutenção da dignidade das pessoas refugiadas. “O que estou olhando é que aqui tem esse tipo de atenção com a dignidade das pessoas, tem um tratamento correto; fazem a triagem, dão acesso a água, comida, lhes dão proteção”, disse.

Boromi ressaltou a importância de se realizar o treinamento prévio desse tipo de procedimento. “A ajuda humanitária vai ser cada vez mais necessária, justamente pelos efeitos das mudanças climáticas. Teremos mais secas, enchentes, situações extremas… E se não se treina isso antes, quando chega a emergência, a resposta acaba sendo improvisada”, disse.

O argentino lembrou que a eventual falta de controle das situações emergenciais pode desestabilizar uma sociedade. “Imagina uma situação em que não se tem onde cozinhar, comer, energia elétrica. Se falta água, isso gera outro problema, pois as pessoas vão beber água contaminada e aí vêm as diarreias, o cólera… rapidamente tem-se 20, 30, 40, 50 enfermos, e o sistema de saúde local acaba entrando em colapso: não há medicamentos para dar, não há leitos para internação… A população vai pedir respostas das autoridades e começa um processo de protesto social, e aí temos outro problema criado. Aquilo que deveria ser tranquilo, se transforma em um pequeno conflito quando não se planeja”, concluiu.

As atividades da Amazonlog tiveram início no dia 6 e vão até a próxima segunda-feira (13). Além dos exércitos do Brasil, da Colômbia e do Peru, o evento tem a presença de militares dos Estados Unidos. Do Brasil, participam cerca de 1.550 militares; a Colômbia enviou 150; o Peru, 120; e os Estados Unidos, 30. Outros países, como Alemanha, Rússia, Canadá, Venezuela, França, Reino Unido e Japão, estão enviando menos que dez representantes cada.

A atividade envolve unidades de transporte, logística, manutenção, suprimento, evacuação e engenharia. No caso de catástrofes, por exemplo, isso implica o planejamento logístico de deslocamento de equipamentos, suprimentos e equipes até o local da ação. Além de preparar a área, é preciso pensar em como atender os feridos e evacuar as pessoas. Também estão sendo feitos atendimentos às comunidades que vivem na região, como índios e ribeirinhos do Brasil e de países vizinhos.

Fonte: Agência Brasil